Durante a programação do PGJ Itinerante, realizada entre os dias 9 e 11 deste mês, no Município de Barreiras, o Ministério Público do Estado da Bahia lançou o Núcleo de Tratamento de Conflitos Agrários e Fundiários (Nuaf) que terá atuação em todo o estado.
A nova estrutura foi instituída por ato do procurador-geral de Justiça, Pedro Maia que, na ocasião, assinou o ato de constituição do Núcleo e a portaria que designou os promotores de Justiça que irão compor o Núcleo - Luciana Khoury, Suélen Lima Casé, Jurgen Wolfgang e Rui César Farias dos Santos Júnior. Em sua fala, o chefe do MP baiano enfatizou a importância do novo Núcleo para avançar na pacificação dos conflitos e construção da paz no estado. “Esse é um espaço da sociedade e um marco fundamental para nossa Instituição. Chamamos de Núcleo de Tratamento, pois o MPBA não vai entregar a solução pronta. Ela será construída por todos, de mãos dadas. E o lançamento ocorreu aqui em Barreiras, Município localizado em uma região que merece uma pacificação e um tratamento adequado dos conflitos agrários”.
O Núcleo contará com o suporte técnico e especializado dos Centros de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça Cíveis e Fundações (Caocif), dos Direitos Humanos (CAODH), de Apoio às Promotorias de Meio Ambiente e Urbanismo (Ceama) e de Segurança Pública e Defesa Social (Ceosp). Além disso, contará com com a participação do Centro de Autocomposição e Construção de Consensos (Compor), que aplicará métodos adequados para a mediação e negociação de conflitos, com foco na prevenção e pacificação social.
Segundo a promotora de Justiça Aurivana Braga, coordenadora do Caocif, “a criação do Nuaf representa um passo estratégico na atuação do MPBA para enfrentar e prevenir disputas coletivas relacionadas à terra urbana ou rural”. Ela complementou que “a criação do Nuaf reforça o papel institucional do MPBA como agente de transformação social e proteção dos direitos coletivos, especialmente em um estado onde as questões fundiárias e agrárias têm histórico de tensão e vulnerabilidade social. A instalação do Núcleo durante o PGJ Itinerante em Barreiras reforça esse compromisso com a interiorização da atuação do Ministério Público e a aproximação com as entidades da sociedade civil da região”.
De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apenas no ano de 2024, foram registrados 135 conflitos por terra, o que coloca o estado na terceira posição no ranking nacional, atrás apenas do Maranhão e do Pará. “Não é papel do MP criminalizar e sim identificar e mapear os conflitos, além de dialogar com as forças policiais para que os mandados de reintegração de posse sejam feitos de forma pacífica e consensual”, afirmou o promotor de Justiça Hugo Casciano, coordenador do Ceosp. A Bahia é um dos estados com o maior número de comunidades tradicionais do país, incluindo povos quilombolas, indígenas, ribeirinhos e outros grupos. O relatório da CPT também aponta a ausência de políticas públicas específicas e a necessidade urgente de articulação interinstitucional como caminhos estratégicos para a construção da paz social com respeito aos direitos fundamentais e à legalidade.
O promotor de Justiça Rogério Queiroz, coordenador do CAODH, também defendeu o papel do MPBA na mediação dos conflitos agrários. “A Instituição não pode ser alijada dessas discussões. Não podemos nos omitir. Temos a Resolução 230 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que traz a importância do respeito aos territórios independentes e a regularização fundiária, principalmente quando se trata de povos indígenas. Temos o dever de dialogar com as comunidades tradicionais e oferecer segurança jurídica para os agricultores, entes públicos e povos originários”.
Crédito das fotos: Sérgio Figueiredo