O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), atribuiu o baixo desempenho do estado nos índices de alfabetização ao resultado das redes municipais de Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista. A declaração foi feita nesta segunda-feira (14), durante cerimônia na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), em Salvador.
“Se vocês observarem, olhem lá o comportamento da educação fundamental em Salvador, em Conquista e Feira de Santana, que são os municípios que puxam para baixo pela quantidade de estudantes que têm”, afirmou o governador, ao comentar os dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) na última sexta-feira (11).
O levantamento mostrou que apenas 36% dos alunos baianos do 2º ano do ensino fundamental apresentaram nível adequado de alfabetização até os 7 anos de idade — o pior desempenho do país e bem abaixo da meta de 60% fixada pelo governo federal.
As três cidades citadas pelo governador são administradas por prefeitos do União Brasil: Bruno Reis, em Salvador; José Ronaldo, em Feira de Santana; e Sheila Lemos, em Vitória da Conquista. O partido é liderado nacionalmente por ACM Neto, ex-prefeito da capital baiana e adversário político do PT na Bahia.
Fundado a partir da fusão entre DEM e PSL, o União Brasil tem ACM Neto como vice-presidente nacional e principal articulador político da sigla no estado. Além de se colocar como oposição ao governo Lula, Neto tem defendido a saída do partido da base governista em Brasília e trabalha nos bastidores para viabilizar uma candidatura presidencial em 2026.
Recentemente, também esteve envolvido na articulação da federação com o PP, formando o grupo “União Progressista”, que hoje reúne parte das maiores bancadas do Congresso e administra algumas das principais cidades da Bahia, incluindo as três citadas por Jerônimo.
Embora os dados negativos envolvam o estado como um todo, Jerônimo reforçou que a alfabetização no início da infância é uma responsabilidade dos municípios. “Fiquei triste, porque eu não posso torcer contra a educação baiana. Estamos fazendo esforços. O resultado que saiu foi de alfabetização, que é de responsabilidade dos municípios”, afirmou.
O governador disse ainda que o Estado tem contribuído com a construção de creches e escolas de ensino fundamental, além de oferecer programas de capacitação a professores da rede municipal. Em tom crítico, voltou a cobrar da capital baiana investimentos na educação infantil:
“Eu quero ajudar, mas Salvador precisa ter creche. Um município que não tem creche não melhora o Fundamental 1, o Fundamental 2. E sabe onde isso pode cair? Vai recair na educação do ensino médio. É uma cadeia.”
A fala de Jerônimo causou repercussão nos bastidores políticos, já que coloca o foco da crise educacional nas administrações de opositores ligados a ACM Neto. Com isso, o governador petista tenta se distanciar da responsabilidade pelos piores indicadores de alfabetização do país, mesmo sendo o chefe do Poder Executivo estadual.
A reportagem aguarda posicionamento dos prefeitos citados e da direção estadual do União Brasil sobre as declarações do governador.