Neste domingo (27), foi lançado no Quilombo do Buri, em Conde, no Litoral Norte da Bahia, o projeto Raízes no Mangue, Futuro Sustentável, pela Associação de Pescadores e Marisqueiras do Quilombo, iniciativa voltada à restauração ecológica, enfrentamento ao lixo no mar e valorização do turismo de base comunitária. Com apoio da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), o projeto fortalece a atuação conjunta pela proteção dos manguezais e acontece um dia após o Dia Mundial de Proteção aos Manguezais, celebrado no sábado (26), reforçando o compromisso da Bahia com a conservação desse ecossistema essencial à biodiversidade e à vida de milhares de famílias que vivem da pesca artesanal.
A Bahia é a região com a maior extensão de manguezais fora da Amazônia, com cerca de 90 mil hectares, distribuídos por 45 municípios. Esses ecossistemas desempenham um papel fundamental na reprodução de espécies marinhas, muitas delas de interesse econômico, na proteção da linha de costa, no sequestro de carbono e no sustento de comunidades tradicionais. Por isso, são reconhecidos por lei como Áreas de Preservação Permanente (APPs) e têm sua conservação considerada estratégica para o equilíbrio ecológico e a segurança alimentar.
"Dando continuidade às comemorações pelo Dia Mundial dos Manguezais, estamos aqui representando a Sema no Quilombo do Buri, para conhecer e apoiar as iniciativas locais voltadas à conservação desse ecossistema tão importante. O quilombo foi contemplado com dois projetos voltados à preservação e à educação ambiental sobre manguezais, cujas atividades estão sendo lançadas hoje. Viemos para acompanhar esse início e oferecer nosso apoio no que for necessário”, afirmou a oceanógrafa da Sema, Alice Reis.
Ela também explicou o papel fundamental dos manguezais na zona costeira. “Eles protegem o litoral da erosão, ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, sendo reconhecidos como os maiores captadores naturais de carbono atmosférico, e servem como verdadeiros berçários da vida marinha. Preservá-los é essencial para garantir os recursos pesqueiros e manter viva nossa cultura tradicional e gastronômica, profundamente ligada ao mar”.
A ação no Quilombo do Buri se soma a uma série de políticas públicas implementadas pelo Governo da Bahia para proteção dos ambientes costeiros. A Sema atua de forma integrada em programas como o Gerenciamento Costeiro (Gerco), o Planejamento Espacial Marinho do Nordeste (PEM-NE), e na implementação de políticas alinhadas à chamada Economia Azul, que promove o uso sustentável dos recursos marinhos com inclusão social e adaptação climática. A Bahia também integra a Estratégia Nacional para Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais (ProManguezal), lançada pelo Governo Federal em 2024, que orienta políticas públicas para esses territórios.
O presidente da Associação de pescadores e marisqueiras do povoado do Buri, Washington Alan de Souza, reforçou o quanto esses projetos são importantes para o povoado. “Esses projetos unem a proteção do manguezal à geração de renda para a nossa comunidade. Vivemos cercados pelo manguezal do Rio Itapicuru e enfrentamos dificuldades históricas por conta do isolamento geográfico. Com essas iniciativas, conseguimos atuar na conservação ambiental, com oficinas, mutirões de limpeza e monitoramento em parceria com universidades, e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para desenvolver o ecoturismo de base comunitária como uma alternativa de sustento. É uma oportunidade de fortalecer nossa autonomia, preservar nosso território e melhorar a qualidade de vida do nosso povo”.
Ele também ressaltou o quanto o apoio da Sema é fundamental para fortalecer a comunidade e garantir que as políticas públicas considerem as especificidades do território. “Desde que reativamos a associação, buscamos parceiros que compreendam a realidade local. A presença da secretaria nas nossas ações agrega valor, traz conhecimento técnico e ajuda a levar nossas demandas para dentro do Estado. Isso é essencial para que iniciativas como as nossas, de proteção do manguezal e geração de renda, tenham continuidade e impacto real”, concluiu.
A coordenadora de Cultura da Associação de pescadores e marisqueiras do povoado do Buri, Itaúva Cruz, destacou que está representando a comunidade nesse processo de transformação e preservação do meio ambiente. “Sabemos que nossa comunidade vive do extrativismo, do mangue, e é justamente por isso que precisamos cuidar dele. É do mangue que tiramos nosso sustento, e é nele que está a base da sobrevivência das futuras gerações. Por isso, precisamos despertar uma consciência ambiental coletiva, para reconstruir o que foi perdido. A natureza precisa de tempo para se regenerar. Isso aqui é um passo a mais dentro de um processo contínuo, que precisa do envolvimento de todos para que a gente possa seguir adiante”.
Além do lançamento neste domingo, o projeto segue na segunda-feira (28) com a realização de uma oficina e um mutirão com foco no enfrentamento ao lixo no mar e no manguezal, uma das principais ameaças à biodiversidade e à saúde ambiental das zonas costeiras. O objetivo é fortalecer práticas sustentáveis e promover a sensibilização das comunidades locais sobre os impactos do descarte inadequado de resíduos.
Fonte: Ascom/Sema